Jun 5 2004

A Atraente Banalidade da Verdade

Desidério Murcho
Jornal Público, 5 de Junho de 2004

Há algo de estranho neste primeiro romance de Teresa Direitinho. Apesar da banalidade da história e da narrativa, e apesar das personagens um tanto ocas, lê-se compulsivamente – como quem lê as memórias francas e muito honestas de uma pessoa sensível mas sem muitas complexidades psicológicas, que sobretudo quer viver feliz num mundo quase infantil. O romance narra de forma directa, sem floreados, e na primeira pessoa, a vida de Laura, dos 13 anos até perto dos 35 – de 1978 a 1999. Talvez a leitura seja compulsiva porque nos vence pela força simples das emoções verdadeiras.

Nada acontece de verdadeiramente extraordinário neste romance. Laura, aos 13 anos, conhece David e Arthur, dois irmãos meio ingleses que vão passar as férias de Verão à propriedade da família no Alentejo. A normal camaradagem de pré-adolescentes livres e saudáveis, longe das grandes cidades, desenvolve-se sem sobressaltos. Entre os três há amizade, partilha, humor e o gosto de viver. Quase parece o idílio dos livros de Enid Blyton. Mas é claro que a paixão está no horizonte e o leitor pergunta-se qual é o desgraçado que vai ficar de fora. A coisa torna-se complicada com a entrada de John, um amigo americano dos irmãos. Agora há dois que ficam de fora.

O romance trata com parcimónia as hesitações amorosas de Laura e a tentativa de manter a amizade com os rapazes. O que ressalta é o enorme bom senso daquela gentinha: entre os 13 e os 18 anos, talvez pareçam sensaborões ao leitor moderno. Contudo, o romance é bastante realista, neste aspecto. Se olharmos para as nossas próprias vidas, não são muito diferentes. E talvez seja este um dos aspectos que tornam a sua leitura compulsiva: não estamos em busca de literatura, mas de uma compreensão alargada da condição humana. Mas, pensando melhor, não é também isso que nos atrai na boa literatura?

Quando chegamos a meio do romance e a protagonista já se apaixonou à vez por dois dos rapazes, conseguindo a proeza de manter a amizade dos outros, começamos a perguntar o que raio poderá acontecer agora. E este é um aspecto que não desilude: o medo de que a história perca direcção e focagem é injustificado. Pelo contrário, o desenrolar da história vai esclarecendo aos poucos o sentido de todo romance: a busca incessante de Laura pela verdade emocional. Ela ama e é amada, apaixona-se e é objecto de paixão, mas quer algo mais: quer verdade.

O romance desenrola-se contra o pano de fundo do Alentejo. Mas a protagonista vive igualmente em Lisboa, visita Londres e o Sul da Inglaterra, vive nos Estados Unidos e visita Áustria e Itália. A música e a ciência, as artes e a literatura estão igualmente presentes. Mas há no uso de todos estes elementos aquela simplicidade banal que caracteriza o romance, e que resulta inesperadamente realista: afinal, para a maior parte das pessoas, todas estas coisas são como adornos para vidas que de outro modo seriam terrivelmente ocas. É como se a angústia, o desespero e o turbilhão que tantas vezes impulsiona a arte e a ciência dos outros fosse uma espécie de bálsamo para espectadores em busca de um sentido morno para as suas vidas banais.

Quem conhece o “Quarteto de Alexandria”, de Lawrence Durrell (Ulisseia), reconhece neste romance o mesmo tema: a compreensão da amizade e do amor, daquela amizade funda que partiu da adolescência, daquele amor que desampara e dói. Mas, surpreendentemente, dada a alma fadista nacional, não há neste romance um lado negro: há luz a jorros por todo o lado e a vontade simples da felicidade simples. Olha-se o céu nocturno alentejano povoado de estrelas, mas sente-se apenas a maravilha de se estar vivo, de se ser jovem e de se ter amigos. Esta superficialidade é, de algum modo, chocante. Contudo, é realista.

Este é um romance para quem pertence à geração da autora, e que se revê claramente no tempo histórico retratado. Mas é também um romance especialmente apelativo para os que agora são adolescentes e que poderão aprender com as adolescências de outro tempo. Afinal, os adolescentes estão sempre condenados a ler o que se passa não na sua adolescência, mas na dos que agora são seus pais.

in Público, suplemento Mil Folhas, de 5/6/2004

e também em in Crítica, Revista de Filosofia e Ensino, 5 de Junho de 2004


Mai 30 2004

Revista Alentejo

Joana Caspurro
Revista Alentejo, Maio de 2004

A musa inspiradora de Teresa Direitinho (geofísica de formação) foi a abóbada celeste, os seus mistérios e a sua ciência. (E o céu, como bem sabemos, é grande no Alentejo). Dela partiu para uma viagem bem mais terrestre, pelos “verdes anos”, seus, porventura, mas encarnados em personagens de ficção, de todos e de ninguém, portanto.

A temática surgiu óbvia: o crescimento, a adolescência, a sexualidade, a amizade e amor, a viagem ao encontro de quem somos e do lugar que ocupamos entre os outros. Tudo sob o pano de fundo da apaziguadora natureza alentejana, dos seus excessos térmicos e dos seus poéticos horizontes, por um lado; por outro, da húmida Londres, da académica Oxford, além de todo um bem ilustrado périplo por grande parte da Inglaterra; mas também Lisboa, mas também os EUA, a Austrália, a Itália e a Áustria…Mas também, sempre e sobretudo, o céu, numa abordagem ora mágica – entre o infantil e o metafísico -, ora científica, com precisão que imagino correctíssima, e que desconfio, será ponto de atracção certeiro junto de leitores dados às ciências, e a todos os curiosos dos mistérios cósmicos. Sobretudo jovens, sejam de que idade forem.

Porque o Principio da Atracção, fazendo lembrar os clássicos Adeus, quinze anos, de Claude Campagne ou Tão Longe de Sítio Nenhum, de Ursula K. Le Guin (lembram-se?), ao som de Absolute Beginners, por exemplo, é um romance especialmente adequado para os leitores jovens, e não apenas pela temática. Também pela sua simplicidade, pela linearidade da acção, pela suave visão pueril narrada em primeira pessoa por Laura – a jovem protagonista, à volta da qual gravitam, como corpos magnetizados, outros dois jovens ingleses e um americano, desde a pré-adolescência (tudo começa num Verão de 78) até à maturidade (algures no Verão de 1999).

Apesar desta ligeireza formal que poderá afastar leitores mais exigentes – e de uma certa envolvência burguesa, em que a vida decorre numa quase perfeita harmonia, sem grandes obstáculos, senão os pessoais, para o alcance dos seus objectivos -, o espírito que perpassa não é de frivolidade, tanto mais que a formação pessoal das personagens, que crescem ao longo da obra, valoriza o desenvolvimento de uma atenta consciência social, um olhar crítico, humanista, sobre si, o outro e o mundo. De modo que, passo a passo, as páginas amadurecem, num aprofundamento das tensões que harmonicamente acompanham o próprio crescimento dos 4 adolescentes.

Daí que o catalogar da obra como mera ficção para jovens seja certamente demasiado redutor. (Não que considere a escrita para jovens menor; pelo contrário, é importante e extremamente necessária, sempre e cada vez mais. E numa altura em que tanto se fala de Educação Sexual, não passará esta também, e muito, pela actividade reflexiva da leitura?). Potenciais leitores encontrar-se-ão também na geração que viveu este período fundador da vida entre os anos 80 e 90 (quando ainda se dançavam slows e as cartas não tinham o estilo telegráfico dos SMS). Ou, simplesmente, entre todos aqueles a quem apeteça uma história de amor e amizade, conduzida, com cientifico rigor, pela encruzilhada das estrelas.

Não terá a originalidade criativa nem o peso literário de obra candidata a um austero galardão da escrita, mas O Princípio da Atracção tem todos os condimentos para se tornar, também, um “princípio de atracção” pela leitura e pelo saber humanista.

E é, ainda, uma homenagem discreta e sincera ao Alentejo, ponto de partida para qualquer órbita intra ou inter-galáctica.

in Revista Alentejo, nº 1 – Maio 2004


Mar 31 2004

O Princípio da Atracção — um romance de Teresa Direitinho

Ana Margarida Ramos
Diário do Minho, 31 de Março de 2004

O romance estreia de Teresa Direitinho apresenta-se como as “memórias” da protagonista – Laura – que reconstrói o seu percurso desde a adolescência até à idade adulta, englobando um período de tempo definido entre os Verões de 78 e de 99, percorrendo um conjunto amplo de espaços diversos, com especial incidência para o Alentejo (onde se inicia e se encerra a intriga do romance), que incluem referências a Lisboa, aos Estados Unidos, a Inglaterra e a outros países, configurando uma narrativa que apresenta afinidades com o “romance de formação”.

A sua estruturação de tipo circular, com o retorno definitivo e pacificado das personagens principais ao seu primeiro local de encontro, articula-se com a linearidade da intriga, acompanhando o crescimento e a evolução dos protagonistas seguindo o seu fio cronológico. O romance apresenta ainda, no que à construção e sobretudo ao estilo diz respeito, proximidades com o registo cinematográfico pela acessibilidade do discurso, a presença assídua do diálogo e o recurso constante a descrições sugestivas que promovem o visualismo.

A revisitação da adolescência e juventude das personagens, em especial da narradora, ocupa grande parte das quase quatrocentas páginas da obra, cujo ritmo acelera à medida que o tempo vai passando. O passado parece ser recordado com saudade e é recriado através da reconstrução de um retrato eufórico, notando-se a tendência para privilegiar os momentos de luz em detrimento dos de sombra.

A narradora não se limita a descrever acontecimentos e emoções, mas reflecte sobre eles e analisa-os, dando-lhes uma ordem harmónica e apresentando-os como determinantes para a sua situação presente. A juventude, tempo de incertezas e de muitas promessas, é, então, apresentada como a “terra de todas as oportunidades” e, no caso deste romance em particular, é o período onde surgem as amizades, os amores, os sonhos e as pequenas/grandes desilusões.

Esta visão idílica desse momento crucial do crescimento é reforçada pela preponderância dos espaços naturais e rurais, nomeadamente os alentejanos, que atribuem ao enredo um colorido muito especial. A vida no monte e nas suas redondezas é, pois, cenário preferencial para o romance, assim como para os encontros e desencontros das personagens que aí se juntam cada Verão, aceitando cruzar, durante breves mas intensos períodos de tempo, os seus destinos e as suas vidas tão diferentes, com origens claramente distintas, em Portugal, em Inglaterra e nos Estados Unidos.

Este é, pois, o cenário para uma intriga pautada pela sucessão de numerosos triângulos amorosos que são vivenciados com grande inocência mas também com muita profundidade pelas personagens principais nas suas demandas pessoais e colectivas do amor, da amizade e da realização profissional.

O título do romance, polissémico, aponta simultaneamente para a valorização da juventude como momento deter-minante na vida das personagens, uma vez que é o “princípio” de uma série de “atracções” que se revelarão decisivas no futuro, ao mesmo tempo que pode ser lido à luz da Ciência e tomado como uma eventual “lei” que explicasse a atracção dos corpos, da matéria, afinal das pessoas…

A sucessão e, até, a sobreposição de sentimentos que a narrativa traduz permitem uma reflexão mais atenta e demorada sobre a complexidade da personalidade humana, avessa a explicações físicas e racionais, num tempo e em locais que são particularmente próximos dos leitores a que se destina. Em cena encontramos uma geração que, nascida na segunda metade da década de sessenta do século XX, não tem as mesmas referências ideológicas da geração anterior, nem as mesmas limitações físicas e culturais, e procura o seu lugar num mundo em mudança, onde os limites e as fronteiras parecem não existir e onde a Ciência, ou simplesmente o conhecimento, se revela quase como um valor universal.

Não será, pois, por acaso que as leis da Física surgem de forma tão insistente como mote ou leit-motiv para a narração das vivências do homem/mulher comum em busca da felicidade e da realização plena. O optimismo que caracteriza as personagens resulta das inúmeras possibilidades que se lhes abrem, fruto de uma liberdade que é já tida como adquirida.

As batalhas que travam vão muito mais no sentido da sua afirmação individual e não geracional, podendo, de certa forma, O princípio da atracção ser lido como uma obra que “defende” uma geração tida como individualista ou pouco solidária, porque dá conta, a partir da experiência pessoal da narradora, dos seus sonhos e dos seus medos. Será também esta busca de referências num momento de fragmentação das ideologias que explicará, em parte, a presença constante, quase obsessiva, de insinuações de teor musical que acabam, inclusivamente, por interferir na própria intriga.

Assim, mais do que um romance com um fundo musical ou mesmo com banda sonora, podemos falar de um texto que encontra na música e nos textos das canções um interdiscurso privilegiado para definir a forma de pensar e de sentir de um grupo alargado de pessoas, dando-lhes causas comuns.

A música revela-se, pois, pela diversidade de estilos, épocas e países, uma linguagem verdadeiramente universal, capaz de comunicar o indizível e de presentificar o inimaginável.

Repleto, igualmente, de alusões literárias e culturais, de referências a escritores, obras literárias e artistas das mais diferentes áreas, este é também um romance de viagens e de viajantes, em sentido literal e simbólico, que peregrinam mundo fora à procura do “seu” pequeno lugar num vasto universo.

O Princípio da Atracção, Teresa Direitinho, Lisboa, Oficina do Livro, 2003

[2004-03-31 – 10:50:00] Ana Margarida Ramos (Prof.a da Universidade de Aveiro)


Nov 14 2003

Vamos lá ver…

Maria José Rijo
Jornal Linhas de Elvas, 14 de Novembro de 2003

Ora, vamos lá ver se é desta feita que aquieto a minha consciência! E convenhamos que está mais do que na hora!
É que havia dantes uns meses que tendo os mesmos trinta ou trinta e um dias do que os de agora, conseguiam perfazer uns anos em que eu arranjava tempo para cumprir propositos a que por gosto, ou por dever, me devotava.
Mas, o que é feito desse tempo elástico, eu não sei. Sei que continuo a agendar tarefas que gostaria de ter cumprido quando as agendei como desejáveis e prazerosas, e o “tal” tempo se escoou deixando-me a mágoa, quase o remorso, pelo que desejei ter feito e não consegui realizar.
Vamos lá ver, então, se de hoje não passa.
Tem isto que ver com três escritores. Dois de Elvas, a saber: – Amadeu Lopes Sabino, Maria do Céu Barradas, e um terceiro que não é natural da nossa cidade – António de Almeida Santos. (A que agora junto mais um nome de outra elvense: – Teresa Direitinho!)
Porque junto os nomes dos primeiros três que cito, é que, é o engraçado da história.
Vou contar:
Maria do Céu Barradas, escritora – com justiça – bem apreciada trouxe-me, há anos, de Bruxelas, um livro interessantíssimo da autoria de Amadeu Lopes Sabino – de que ele próprio me fazia presente – “A Homenagem a Vénus”.
Não fora a aguçada consciência da minha real dimensão, e, logo após a leitura que dele fiz, de imediato teria ousado escrever contando como e porquê me deliciou a obra citada, o que não cheguei a fazer porque o reconhecimento da dimensão do que nos encanta, por vezes, rouba-nos a ousadia da sua abordagem…
Acontece que hoje, ao retomar em mãos o livro e vendo os sublinhados que marcam profusamente as suas páginas e me recordam como me encantou a sua leitura, não resisti a vir recomendar que não percam a oportunidade de tomar conhecimento com este escritor, através da sua obra.
Ora, esta crónica acontece por outra razão que também vou contar.
Sabendo do meu apreço pela escrita de Lopes Sabino, ofereceram-me, posteriormente, de sua autoria: “a Lua de Bruxelas.”
Algum tempo depois também Maria do Céu Barradas fez chegar às minhas mãos o seu terceiro romance: “Os Encontros em Bruxelas” .
Fui sensível à coincidência de a capital da Bélgica estar presente no título de ambos os livros, que sendo de géneros completamente diferentes, cada qual, como é obvio, provoca emoções diferentes na forma de encantamento que proporcionam.
Entre eles não há semelhanças. Apenas Bruxelas como cenário lhes é comum.
Como e porquê Almeida Santos aparece nesta conversa? É pela coincidência de que tendo então, eu, adquirido “Quase Retratos”, livro desse autor, me deparei, logo após a abertura da obra com Almeida Garrett, como o primeiro era retratado.
Circunstância que me devolveu ao livro de Sabino (A Lua de Bruxelas) que duma forma apaixonante evoca a vida de Garrett nessa mesma capital. (O livro não é apenas isso!).
Pensei então juntar os três escritores neste comentário porque senti que era meu dever lembrar aos elvenses, ainda menos atentos do que eu, que agora, com o Natal à porta, o livro, um livro, é sempre um presente útil e de bom gosto.
Um presente inteligente que nos pode acompanhar toda uma vida… e nos pode sobreviver…
Então agora que a intelectualidade elvense tem a sorte de ter sido enriquecida com a estreia literária de Teresa Direitinho, com “O princípio da atracção”, obra que se lê de um só fôlego, quer pelo interesse que o entrecho suscita, quer pela sua qualidade literária, quer, ainda, pela fluidez e beleza da narrativa, e que, além do mais, como as obras de Céu Barradas e algumas de Amadeu Sabino, também refere, com frequência, locais que nos são familiares – quase me parece pecado que alguém os não conheça…
Penso que nunca mais irei a Juromenha sem levar no meu coração a lembrança do livro de Teresa…
Quando de “tanto” nos lamentamos, vale a pena conhecer aqueles de quem nos podemos e devemos orgulhar.

http://www.linhas.elvas.net/2003/2Sem/2735/opina_mjr.asp


Nov 1 2003

A explicação do amor astutamente feminino

João Céu e Silva
Diário de Notícias, 01 de Novembro 2003

Estamos perante um livro que tem uma característica muito pouco divulgada em Portugal, a de não se envergonhar em usar o País como cenário da sua acção. Neste caso, a autora não tem problemas em ir buscar o Alentejo para colocar os protagonistas a palmilhar terras quentes e com história. Não é que essa situação seja virgem, mas quase nunca se verificou sem o objectivo de fazer um aproveitamento das suas cores políticas ou por facilitar o enquadramento da acção e da escrita em tão belas planícies.

O Princípio da Atracção não vai por aí. Não é que se esqueça das ocupações de terra do pós 25 de Abril mas o seu fim é muito mais profundo. E é nessa busca que faz uma outra opção também há muito esquecida pelos nossos escritores, que é o de explicar o que é a alma portuguesa.
O sentimento nacional de achar que tudo o que é bom passa-se para lá da fronteira é contrariado ao longo destas quase quatro centenas de páginas. Disso encarrega-se a personagem Laura que, ao centralizar a acção do livro, oferece-nos um passaporte para outros países e civilizações e meios para comparar.
E Laura não vai para essas outras bandas do mundo de forma gratuita. É certo que existe um sonho que tem forma a astronomia que a deixa descair pelo lado redondo da Terra, até confirmar que a visão das suas estrelas se vai modificando conforme o local de onde se as observa.
Mas o grande achado deste livro – um primeiro romance – é a permissão para acompanhar o crescimento de três adolescentes, uma portuguesa e dois ingleses. Um verdadeiro traveling cinematográfico que nos prende de um parágrafo para o outro até encontrarmos o desenlace que a maturidade dos intervenientes acaba por exigir. Um longo folhear que nunca nos faz desanimar por estar bem contada e repleta de um suspense astutamente feminino.

O livro de Teresa Direitinho tem a particularidade de nos facilitar o entendimento da paixão. Como ela surge – minha curta experiência de relacionamento com o sexo oposto – como ela evolui – Vou continuar a andar à procura de muita coisa – na mulher.

Por isso, chega-se ao fim com um óptimo guia para entender os vales e montes que as emoções e o amor percorrem, mesmo que nascidos em rasa planície do Sul.